23 de dez. de 2012

Final de ano

A popular Stonehenge no solstício de inverno
Que loucura, já é Natal. E o mundo não acabou no dia 21.
Enquanto no Brasil os termômetros estão em alta, na Inglaterra é tempo de frio e chuva, muita chuva. O agito para as festas de fim de ano, a correria nos aeroportos e estações de trem, os cartões de ‘season greetings’ (saudações às estações) que os britânicos enviam um ao outro - e os expõem pela casa -, as tradicionais mince pies, o vinho quente, e as árvores caducas numa paisagem cinzenta também fazem parte do dia a dia nesta época.
Abaixo de zero
 
 
 
Com direito a uma visita a Londres, aproveitei para passear no centro da capital, matar a saudade da riqueza cultural da cidade, e perceber que morar lá por nove meses foi um privilégio, mas que morar numa cidade como Totnes tem mais a ver comigo, especialmente com o meu ritmo.
 
 
 
Que venha 2013!
Felizes celebrações! Um abraço, Mi.

20 de nov. de 2012

O viver em comunidade

Você é unico e 'não-repetível'
Quando visitamos lugares como a Uniluz (em Nazaré Paulista), o Schumacher College (na Inglaterra) e Findhorn (na Escócia) – assim como tantos outros – é fácil nos convencer, ou melhor, acreditar que outro mundo é possível. Mas como assim, outro mundo?
Sim, outro jeito de viver, com diferentes hábitos, valores, relações e, especialmente, perspectivas. Aquilo que atualmente é considerado ‘alternativo’ passa a ser o ‘convencional’, o tão almejado ‘normal’.
No primeiro dia em Findhorn fomos convidados a fazer sauna, algo que eu adoro. Quando soube que a maioria das pessoas estariam nuas e que era mista, meus pudores e, por que não, vergonhas se agitaram dentro de mim: homens e mulheres juntos e pelados?! Humm, não sei se esta é a minha praia...
 
Felizmente, refleti sobre a oportunidade rara que era estar no norte da Escócia, numa das mais antigas ecovilas do mundo, conhecendo um monte de gente interessante, em tempo de experimentar algo que me faria sair da minha zona de conforto.
Não é que toda esta chatice de pudores durou 5 segundos uma vez que eu estava lá? Simplesmente não há nada mais libertador (e, ao mesmo tempo, natural) do que fazer sauna, nua, com gente bacana para conversar – e nos transformar.
Me questiono como estar nua com pessoas também nuas, cultivar o que se come, transformar os resíduos orgânicos em adubo, escolher ficar em silêncio por 20 minutos enquanto observamos a nossa respiração, construir algo pensando no maior aproveitamento da energia natural e nos jeitos de coletar a água da chuva para ser usada na irrigação, agir levando o todo em consideração (inclusive as próximas gerações), passou a ser o ‘alternativo’, os bixo-grilos, rippies rebeldes que não se dispõem a ‘se ajustar’ ao sistema. Alternativo mesmo é achar tudo isso algo de outro mundo.
 
 

14 de nov. de 2012

Um lugar chamado Findhorn

Anjos da semana
A caravana original onde tudo começou...
Findhorn é o nome de um vilarejo no norte da Escócia. É também o nome da ecovila fundada por Peter e Eileen Caddy, e Dorothy Maclean quando ali chegaram com sua caravana, em 1962.
Baseada nos princípios da vida em comunidade, espiritualidade e valores holísticos, a Findhorn Foundation (http://www.findhorn.org/) hoje conta com mais de 400 membros-residentes, e oferece diversos programas ao longo do ano. Entre eles, aquele que é pré-requisito para a maioria dos cursos, a Experience Week (Semana da Experiência), a qual concluí neste sábado.
 
 
A vivência possibilitou entender como a ecovila funciona, os desafios, as satisfações da vida em uma comunidade intencional, o que tem sido inovado na Fundação em termos de design ecológico e autossuficiência, além de uma oportunidade para fortalecer nossa consciência sobre a natureza – e todas as surpresas da vida. Como exemplo, para nos fazer verdadeiramente presentes, antes e após qualquer atividade há o que é chamado ‘attunament’, um círculo de pessoas que guiados pelo focalizador (outro termo para facilitador) respiram fundam e compartilham suas energias através das mãos dadas.
 
O dia começa com um saboroso café da manhã que conta com ovos frescos do galinheiro da vila; meditamos por 20 minutos no santuário; cada pessoa segue para o seu ‘serviço de departamento’, o que no meu caso era a cozinha onde prepararíamos uma refeição para 130 pessoas; a tarde há atividades que variam diariamente (danças sagradas, tour na vila, jogos construtivos, caminhadas a sós); meditamos por mais 20 minutos antes do jantar que é servido às 18h; a noite há compartilhamento em grupo, em que cada um fala o que está sentindo e pensando; e, para concluir, há uma sessão com alguém interessante, membro da comunidade (um dia foi com o criador do projeto ‘Trees for Life’, outro dia com um dos responsáveis pela manutenção do prédio onde a gente estava, e outro dia com um herbalista que atualmente trabalha com essência de animais).
Simplesmente fascinante.
 
 
 

1 de nov. de 2012

Dia/noite surpresa

Clássica abóbora
Após um dia daqueles, isto é, daqueles que nada parece estar certo, quando um incidente, uma (ou mais) tropeçada, acontece continuamente, o último dia de outubro trouxe uma alegria bem inisperada. Inicialmente celebrando o Dia das Bruxas (Halloween), a festa aqui em casa também rendeu uma surpresa em relação à celebração do meu aniversário.
 
 
Cercada por amigos queridos, comemorei antecipadamente a data do meu nascimento. Além de vinhos e chocolates, coisas que todo mundo parece saber que eu gosto, ganhei uma harpa de boca (até então nunca tinha visto uma) de uma amiga vinda do Quirguistão, um cachecol diretamente da Índia, e um clássico martini com azeitonas preparado por um querido amigo/mentor.
 
A noite também contou com a participação de crianças fantasiadas batendo a porta. Seguindo a tradição de ‘tricks or treats’ (‘gostosuras ou travessuras’), fiquei feliz por presenciar este ritual que é bem divertido. Ainda bem que tínhamos um monte de chocolate...
 
E hoje, após uma caminhada a beira do rio Dart que contou com a aparição de uma foca fazendo graça, reencontrei um querido amigo colombiano que, após três dias de curso sobre pães, nos presenteou com uma caixa cheia de pães frescos feitos por ele. Uma alegria sem tamanho.
 


30 de out. de 2012

Trabalho coletivo

Totnes está celebrando uma grande conquista: após muitos protestos, petições, reuniões, passeatas e, resumidamente, muito barulho, a rede de cafés Costa, uma das grandes cadeias no Reino Unido, desistiu de abrir a loja que até já tinha permissão/alvará para ser aberta.
Devido ao engajamento da comunidade que quer manter o ‘espírito alternativo’, a proteção aos pequenos empreendedores, e o desenvolvimento – e fortalecimento – da economia local, finalmente, o gerente do Costa Café visitou a cidade e reconheceu que não valeria a pena investir em uma cidade onde as pessoas são conscientes o suficiente para boicotar uma já grandiosa organização. Eis aqui uma reportagem sobre o desfecho desta história:  
Outro exemplo que mostra como a ‘união faz a força’ foi vivido neste último final de semana. Com a missão de remover os resíduos, especialmente materiais plásticos, do rio Dart, o rio que passa por Totnes, voluntários se reuniram num dia em que os termômetros atingiram 2ºC para colaborar com a iniciativa.
Sendo um dos aventureiros em caiaques, ajudando na preparação da comida para o picnic comunitário, ou caminhando à margem do rio, cada pessoa que participou do evento contribuiu com uma valiosa causa.
Como diz a famosa sentença da antropóloga Margaret Mead, “nunca duvide de um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, foi sempre assim que o mundo mudou”.
 
 
 

24 de out. de 2012

Vivendo e descobrindo

Por menor que Totnes seja, parece que sempre há o que descobrir nesta cidade. Neste final de semana, por exemplo, caminhei na trilha (especialmente para ciclistas) que conecta a cidade à costa inglesa. A paisagem outonal é simplesmente linda (mas é importante se preparar para encarar bastante lama):
 
 Aqui também há uma feira especial que ocorre no terceiro domingo de cada mês. Diante de várias opções, desta vez, por 5 libras, me esbaldei no que é chamado ‘extravagância de frutos do mar’.
Food fair
Algo que também virou atração por aqui é o ônibus comunitário chamado Bob, the Bus. Apesar de no Reino Unido não haver o ‘sistema de prioridade’ para idosos, obesos, gestantes e deficientes físicos (e eis mais um dos aspectos positivos no Brasil), a iniciativa objetiva auxiliar o transporte desse público na High Street, a rua principal da cidade, que é extremamente íngreme.
E assim, entre uma descoberta e outra, segue a vida por aqui...
 
 
 
 

12 de out. de 2012

As cores da estação

Um das características mais marcantes da vida na Inglaterra é o fato de as estações do ano serem bem definidas. Cada uma com sua beleza e particularidades, o outono traz um colorido rústico, a incessante chuva, e uma sensação de transformação e recolhimento. Nos Dartingtons Gardens, por exemplo, a paisagem é assim:
 
 
Já aqui em casa, além da nova torradeira e do ‘cantinho do chá’, nossa pequena comunidade transformou-se nesta última semana. O bendito fruto entre as (cinco) mulheres, Jonny, mudou para a Espanha, e a Daisy, uma amiga do tempo do mestrado, é a nova residente.
Torradeira fashion
O pessoal daqui de casa. Despedida do Jonny.
 

Entre os aprendizados da semana, gostaria de compartilhar a oportunidade que tive de fazer um treinamento promovido pela organização LIFEbeat (http://www.lifebeat.co.uk). Com a intenção de mobilizar jovens e adultos através de exercícios artísticos, o curso mostrou como todos nós somos verdadeiramente criativos. Algo que vale sempre ser lembrado – e estimulado.
Pessoal do workshop
E, por último, eis aqui a dica de um ótimo documentário sobre a importância das abelhas. ‘The Queen of the Sun: what are the bees telling us?’, ainda sem tradução em português, vale a pena ser assistido e divulgado.