26 de jun. de 2013

Vó Teroca e vô Benê

Batizado: meus padrinhos/avós
A vó e o vô se chamavam de ‘moço’ e ‘moça’. Aos domingos, quando íamos à casa deles na Vila Texeira, o vô fritava peixe e bebia whisky com sprite enquanto a vó  preparava as torradinhas com espinafre e molho branco. Ao fundo, o rádio/vitrola tocava músicas de outros tempos e a (santa) Helena passava roupa.
Os dois gostavam de jogar baralho e assistir novela. Também gostavam de percorrer a cidade em busca das promoções do dia nos supermercados.
O vô era quieto e introspectivo. Sua grande paixão (além da vó) era música, e foi ele quem abriu as portas deste mundo pra mim. Palmeirense convicto,  gostava de ouvir as partidas de futebol no rádio enquanto ia a ‘Lençóis de Paulista’, como chamada sua sagrada soneca após almoço.
A vó já era agitada e barulhenta. Matriarca de primeira, cuidava de tudo – e de todos – sendo que para isso dependia do vô como motorista já que nunca aprendeu a dirigir.
A vó cortava nossas unhas, removia os piolhos com coca cola, fazia gemada e rabanada pra gente. Não tinha preguiça e parecia não ter ‘tempo ruim’ pra ela.
O vô era um ótimo datilógrafo e um eterno curioso. Quando o pai comprou um computador no leilão lá pra casa, o vô ficou fascinado pelo teclado delicado, internet (discada) e, especialmente, com a impressora. Em relação aos prazeres culinários o negócio do vô era mesmo bananas e, em ocasiões especiais, pizzas. Também ficava feliz quando eu preparava uma batata cozida com requeijão e bacon pra ele.
Os dois sempre foram muito generosos e pacientes (ao menos esta é a  perspectiva de uma neta – e afilhada). Gostavam de ir à Bertioga nas férias e pareciam gostar de ver a casa cheia com a família buscapé.
Quando eu ia dormir na casa deles, me deixavam ficar acordada até tarde (o que não era permitido em casa). A vó gostava de rezar após a novela e, se eu aguentasse ficar acordada, o vô deixava eu assistir o programa do Jô Soares com ele.
A vó sempre gostou de cozinhar (era fã da Ana Maria Braga) e cuidar dos outros, sejam pessoas necessitadas que pediam o apoio da igreja, seja um membro da família passando por dificuldades. Algo que impressionava a todos, era que a vó praticava yoga regularmente e plantava bananeira mesmo depois de ter completado 70 anos.
Eles mantinham uma lata/caixa/cesta cheia de chocolates só para os netos. No Natal, faziam lembrancinhas cheias de guloseimas para as crianças. Gostavam também de contar histórias de um passado em que não havia TV e nem asfalto na vila.
Minha mãe contou que quando eu era bebê e ela ficou muito doente, meus avós prometeram que iriam cuidar de mim. Por conta disso, quando eu tinha 10 anos, os escolhi como madrinha e padrinho no meu batizado tardio. Lembro como eles ficaram emocionados quando receberam o convite...
A verdade é que esta dupla era e sempre será muito especial. Bons corações, pessoas do bem, amados avós e padrinhos. Teroca está velhinha e, como o Frê disse, está se preparando para encontrar com o vô. Eu, estando aqui, só desejo mesmo que vocês estejam – e fiquem – bem. Um dia desses a gente vai comer aquela bacalhoada aí no céu. Todos nós juntos novamente.