27 de abr. de 2009

Você já foi ao lixão? Então vá.


Ano passado conheci o lixão da Caturrita, em Santa Maria, Rio Grande do Sul. A imagem e o cheiro são chocantes e inesquecíveis. O volume de lixo, as pessoas que ali vivem – no caso, pasmem, 300 famílias –, e o abandono da sociedade e do governo com tudo aquilo são percepções demasiadamente tristes e assustadoras.
Não tem como não se sentir tocada, revirada e inquieta. Sou cúmplice assumida daquela situação. O lixo da minha casa estava lá, queimando (em lixões há focos de incêndio por conta do lixo que entra em combustão), fedendo e, inacreditavelmente, alimentando crianças miseráveis – muitas que até ali moram.
A proposta do título é real: vá ao lixão da sua cidade. Choque-se (não há insensibilidade que dê conta do recado), reflita, reveja hábitos. Mude hábitos. Transforme-se.

19 de abr. de 2009

A ressaca dos mares

Semana passada – feriadão – tive a oportunidade de ir ao Guarujá. Céu azul, sol escaldante e marzão. Tudo de bom.
Eis que no dia 11 de abril, ao irmos para a Enseada apreciar mais um belo dia ensolarado, nos deparamos com a maior farofada: todos os banhistas deitados em plena calçada ou sobre a grama.
Ao olhar mais adiante constatamos que a água tinha chegado ao limite da praia, isto é, toda a parte de areia estava alagada. Ondas grandes, agitadas e intimidantes se manifestavam continuamente.
Dona Chica, proprietária de um dos quiosques-bar, comentou (ainda chocada): “Em 16 anos que estou aqui, nunca vi algo parecido. Este mar tá muito doido”!
O que estava acontecendo? Alguns comentavam que era um tal de ciclone extratropical; outros diziam, simplesmente, que o mar estava na maior ressaca (será que ele havia exagerado na dose?); e ainda tinha os que afirmavam que aquela era uma prova concreta e fortemente aguada do aquecimento global, bem ali, diante de nossos olhos e pés encharcados.
Em todo caso, este evento consistiu em mais uma nítida – e temida – demonstração dos perigosos fenômenos que as mudanças climáticas são capazes de causar. Até os mais céticos se assustaram, proibiram seus filhos de se aproximarem do mar, retiraram rapidamente todos os seus pertences até então instalados na areia e migraram. Migraram para um lugar mais alto, mais seco e mais seguro.
Até quando haverá um lugar para nos refugiarmos? Até quando? O problema é real. Não podemos continuar ignorando-o.

12 de abr. de 2009

Meus heróis pecadores

Meus pais são as pessoas que eu mais admiro e amo neste mundo. Eles nos transmitiram – a mim e aos meus 3 irmãos – crenças e valores que, apesar de ser suspeita para opinar, considero, no mínimo, primorosos.
De um lado uma mulher ética, espiritualizada por natureza, democrática e socióloga por formação. Do outro, um homem generoso, justo, honesto e formado em publicidade. Sim, estes são os maiores exemplos da minha vida.
Ao observá-los, no íntimo, naquele momento em que nós, filhos, tendemos somente a reverenciá-los, não posso deixar de reparar que assim como todos os humanos, eles possuem defeitos e agem, eventualmente, de maneira equivocada e, de certa forma, contrariando as suas próprias crenças.
Outro dia, ao voltar da padaria acompanhada pelo meu querido pai e ouvindo-o criticar severamente o corrupto e ineficiente governo brasileiro, observei que a partir do momento em que ele recebeu da mão do funcionário do caixa o maço de cigarros até em casa ele: retirou aquele plasticozinho – acredito eu composto 100% de celulose – que embala o maço, depois retirou aquele papel luminoso da cobertura – ambos jogados, em um gesto automático, no chão, e, não bastando, tente adivinhar o destino da bituca.
Em outro momento, observo a minha querida mãe, a qual sempre se empenhou na luta pelos direitos humanos, aquela que implantou a separação de lixo em casa em uma época que quase ninguém sabia o que era reciclagem, ir e vir da mesma – e tão tradicional – padaria com as tão atualmente mal-faladas sacolinhas plásticas – e todos os seus “n” compostos químicos.
É de se pensar: qual a nossa participação nos problemas, não apenas ambientais, mas também políticos e sociais de hoje? Qual é o nosso papel? Qual é a nossa RESPONSABILIDADE perante a Terra?
Podemos questionar o governo, podemos lutar pela igualdade, podemos até nos abster e não nos envolvermos em nem um e nem em outro assunto, mas o que não podemos é negar que o que fazemos aqui gera conseqüências, tanto boas quanto ruins e, na maioria das vezes, essas não têm somente alcance individual e sim, coletivo.

5 de abr. de 2009

A caçadora de clip´s

Certa vez um dos meus irmãos comentou que na multinacional em que ele trabalhava havia sido implantada uma campanha a favor do não desperdício de clip´s. Sim, clip´s – aqueles objetos metálicos pequeninos e tão eficientes.
Imagine a tremenda quantidade de clip´s utilizada em uma grande empresa.
Segundo o levantamento interno, grande parte dessas pecinhas brilhantes tinham destinos infelizes por conta dos (maus) hábitos dos seus usuários: uma porção era destrinchada por conta da tensão, isto é, o funcionário está conversando com alguém ao telefone e, distraidamente, articula com as mãos aquele tão despretensioso utilitário; outra parte caía, eventualmente, no chão e por ser algo tão pequeno e tão barato, era tido como insignificante e, por isso, ignorado; outra parte ainda ia, sem mais nem menos, diretamente para o lixo, afinal que falta fará um clip considerando a abundância dos mesmos na própria mesa ou no estoque da empresa?
Desde que meu irmão contou isso, toda vez – e não foram poucas – que eu via um clip no chão lembrava desta história, mas, da mesma forma, olhava para ele e, sem um motivo aparente, ignorava-o.
Pensando nisso, nesta semana, ao passar por mais um solitário clip na calçada, decidi pega-lo da mesma forma que eu faria se encontrasse uma moeda de 5 centavos (se fosse de 1, já tenho as minhas dúvidas).
Não é que, ao todo, só nesta semana, recolhi 3 clip´s abandonados?! E, diga-se de passagem, cada qual com um tamanho!
A questão é: qual é o nosso problema com a (relativa) abundância de matéria-prima? Por que insistimos em sermos indiferentes com os bens que são tão úteis e essenciais?